Ana Carolina Seara
Depois
de uma longa pausa, volto a escrever. Dessa vez para falar sobre um assunto bem
atual que vem chamando minha atenção cada vez mais e me faz questionar algumas
coisas.
Sabemos
que a cultura e os valores mudam. Confesso que há algum tempo parei de assistir
televisão, me informo através da internet, e escolho a dedo séries e filmes,
afinal tenho cada vez menos tempo ocioso e gosto de aproveitá-lo muito bem.
Apesar do meu pouco tempo investido (ou gasto) assistindo televisão, tenho
acompanhado notícias que só me fazem ter certeza de que fiz a melhor opção. As
nossas novelas, os enlatados tipo BBB e alguns filmes que tenho o azar de ver
(na esperança de que um bom elenco seja garantia de um bom conteúdo) me fazem
pensar nos valores dessa sociedade da qual fazemos parte.
E,
então, algumas vezes acho que estou ficando velha (sei bem, que envelhecendo
todo mundo está, a cada dia, hora, minuto), mas me refiro aqui a me espantar
com cenas que só me fazem crer que está tudo muito diferente no mundo em que vivemos.
E, aos 35 anos de idade (recém completados), sinto que faço parte de um outro
tempo. Tempo em que a televisão tinha um conteúdo menos apelativo, tempo em que
não era “perigoso” deixar uma criança ficar com o controle da televisão, pois
nos horários em que ela estava assistindo TV não haveria nenhum programa
impróprio para sua idade. Tempo em que o sexo não era tão banalizado, tempo em
que os valores eram outros. O que venho acompanhando em filmes, alguns muito
bons pelo elenco e enredo, é de um tempo em que as relações são frágeis, a
fidelidade está na “berlinda”,
apologia ao uso de drogas e medicação como forma de lidar com as intensas
demandas do meio, o afeto não é mais o que “move montanhas”, entre outras coisas que não cabe aqui mencionar.
Isso
me faz pensar se é a televisão que influencia nossa cultura, ou ela é apenas um
reflexo do modo como estamos vivendo. Talvez os dois. Já que o discurso
estampado na televisão é muito similar ao que circula no nosso meio. Homens e
mulheres que anunciam para os mais próximos suas “façanhas” e “contravenções”
sem o menor pudor (pelo contrario, com orgulho), relacionamentos que duram
poucos meses, falta de confiança nos relacionamentos, falta de ética nas
relações, valorização exacerbada do dinheiro como forma de ser feliz, falta de
comprometimento no trabalho, falta
de honra pela palavra (que em outros tempos tinha um valor de compromisso
firmado), enfim... acho que há uma falta enorme de valores, ou melhor... dos
valores que para mim são importantes.
Que
valores são esses? Comprometer-se com o que se diz, ser honesto nas relações (de
trabalho, de amizade, de casal, de família), assumir os erros sem vergonha, ser
fiel àquilo que se comprometeu (e isso não significa não poder mudar de
opinião, mas assumir seus desejos e suas consequências), não banalizar seu corpo e suas relações, cuidar daqueles que amo, não tirar vantagem das
situações, não me apossar daquilo que não é meu, etc. Ou seja: comprometimento,
honra, fidelidade, integridade, honestidade, respeito e amor. Bom, talvez
alguns digam que amor não é um valor. Talvez não seja, mas preservar a capacidade
de amar aquilo que possuo e as pessoas que me são caras é uma habilidade em
baixa nesses tempos em que a aparência tem mais peso do que a essência, que
ostentar aquilo que tenho me dá mais valor do que mostrar quem sou.
E,
com isso, vemos as pessoas precisando mostrar seus dias felizes, seu poder
aquisitivo, sua capacidade de tirar vantagem dos outros, como se isso de fato
as fizesse mais felizes, mais “bem sucedidas”, melhores por “passar a perna” nos seus clientes, nos seus companheiros afetivos, nos seus
pais, nos seus filhos, nos colegas de trabalho, etc. Acho triste essa falta de
amor por si mesmo. Pois, se precisamos trapacear, em verdade estamos mostrando
que não somos capazes de conquistar as coisas ou as pessoas, ou um negócio “seguindo
as regras do jogo” , que não nos sentimos bons o suficiente para ganhar ou
perder honestamente e por nossos próprios méritos e qualidades.
Triste
esse tempo em que as pessoas se consideram tão pequenas a ponto de necessitarem
enganar para ter a sensação de vencer. Ganham o jogo, mas vendem a alma. A
minha não tem preço e gosto de lembrar dos valores que aprendi, saber que tento
e consigo segui-los me traz uma doce sensação e é garantia de um sono reparador.