quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Casar ou comprar uma bicicleta - eis a questão!

Ana Carolina Seara
“Caso ou compro uma bicicleta?” quem já não fez ou ouviu essa pergunta? Se o sujeito resolve casar em algum momento vai achar que a bicicleta teria sido a opção mais barata e rentável. Se resolve comprar a bicicleta, é provável que se arrependa e venha a se perguntar porque afinal desistiu de casar. É incrível como o ser humano tem a capacidade de duvidar de suas escolhas e acreditar que a grama do terreno do vizinho é sempre mais verdinha, ou seja, que a decisão que não foi tomada teria sido a melhor.

Mas, voltando ao casamento e a bicicleta, são realmente escolhas difíceis, porque tanto uma como a outra podem ser boas ou más decisões, afinal tudo depende do que desejamos e precisamos no momento da escolha. Porém, com o tempo, nossos objetivos, anseios e questionamentos vão se modificando e tendemos sempre a maldizer nossas deliberações. A bicicleta pode fazer um bem sem tamanho, incentivando a praticarmos uma atividade física e estarmos em contato com a natureza, prolongarmos nossa vida com a introdução de um hábito saudável, claro, se ela não ficar parada num canto de casa. Assim como o casamento, que, se bem vivido, pode propiciar momentos de prazer e aconchego e que, segundo pesquisas atuais, pasmem (!) prolongam a vida. Algumas pesquisas revelam que as pessoas que estão em uma relação estável tem vida mais longa do que os solteiros ou descasados. E, se elas estiverem corretas, teremos uma geração que viverá menos tempo do que a anterior, já que o número de separações e divórcios cresce a cada dia. O que nos faz chegar à conclusão de que não é possível prever ao certo o que propicia uma vida mais longa: a bicicleta ou o casamento.

Se a bicicleta ficar estacionada num canto da garagem e se o matrimônio for regado a ofensas e discussões, talvez nenhum dos dois possa ser considerado um fator coadjuvante para a vida longa. Mas, se os dois puderem ser aproveitados da melhor forma e conservados para não perderem suas funções, é possível que os dois auxiliem a aumentar a faixa etária da pirâmide.

Mas, o questionamento que abre essa discussão, não seria necessário se as pessoas colocassem o foco nas suas necessidades, desejos e pudessem ter uma boa percepção da realidade. Comprar uma bicicleta é um investimento e, dependendo do objetivo que se tem, deve-se escolher o modelo. Lógico que após fazer uma boa avaliação do custo-benefício e do dinheiro que se tem para investir. Não é possível comprar um modelo de segunda linha, de terceira mão e querer que ele funcione como uma bicicleta zerada e top (digna de um triatleta). Assim como não é possível querer que a bicicleta tenha vida longa se ficar jogada num canto entre outros artigos que se comprou por impulso, sem fazer uma revisão, encher os pneus de vez em quando, verificar o óleo dos freios, utilizá-la em dias apropriados levando-se em conta o clima e sua disposição, acertar a altura do banco, utilizar equipamentos de proteção e por aí vai.

Assim como nenhum casamento dura se os envolvidos não estiverem dispostos a adaptar suas vidas à nova condição, se não houver negociação quando as vontades são divergentes, se não houver respeito pelo espaço de cada um, se não for possível aceitar o parceiro como ele é e querer que ele se transforme na pessoa que se idealizou. Bikes da marca B serão sempre bikes da marca B e nunca da marca A, não são necessariamente melhores ou piores, simplesmente são o que são, e um bom observador percebe isso, mesmo que o vendedor utilize dos melhores artifícios para promover sua venda. Cada marca ou modelo tem suas vantagens e desvantagem, e, como gosto é muito particular, cada modelo serve para cada comprador.

Nossas escolhas são sempre feitas a partir daquilo que somos e identificamos como prioridades no momento em que são realizadas. Algumas pessoas mudam com o tempo e suas necessidades também acompanham essas mudanças. Um belo dia você comprou uma bicicleta para se exercitar, era sedentário e escolheu um modelo apropriado. Mas os anos foram passando e você se dedicou tanto que a bicicleta de passeio não satisfaz mais seus anseios, agora um modelo mais potente se adequaria mais as suas necessidades. Você pode reformar sua bike e adaptá-la às suas novas necessidades, ou procurar um modelo novo. No casamento, existem algumas semelhanças: os anos passaram e você mudou, está mais maduro, aprendeu com os erros que cometeu e sua forma de se relacionar acompanhou essas mudanças. Seu parceiro pode ter se modificado também, ou não (e ter parado no tempo). Nesse momento, é adequado fazer uma “revisão” da relação, são as famosas crises que, se bem aproveitadas, podem fazer ambos crescerem, ou não...

Por um lado ou por outro, é preciso que cada um se responsabilize pelas escolhas que fez e faz e tenha em mente que elas foram feitas num determinado momento da vida. No momento da escolha, não podemos prever o que irá acontecer anos depois, nem podemos ser o que seremos 10 anos mais tarde. Entretanto, temos acesso a alguns dados (que dizem respeito a autoconhecimento e ao conhecimento acerca do nosso parceiro) que, se bem observados podem ser indícios de qual decisão é mais acertada naquele momento. Então, não venha com aquela história: “eu sabia que não ia dar certo”, se sabia mesmo, porque escolheu?
É preciso que se aprenda com cada escolha.

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