terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Parem o mundo que eu quero descer!



Ana Carolina Seara 

Depois de uma longa pausa, volto a escrever. Dessa vez para falar sobre um assunto bem atual que vem chamando minha atenção cada vez mais e me faz questionar algumas coisas.

Sabemos que a cultura e os valores mudam. Confesso que há algum tempo parei de assistir televisão, me informo através da internet, e escolho a dedo séries e filmes, afinal tenho cada vez menos tempo ocioso e gosto de aproveitá-lo muito bem. Apesar do meu pouco tempo investido (ou gasto) assistindo televisão, tenho acompanhado notícias que só me fazem ter certeza de que fiz a melhor opção. As nossas novelas, os enlatados tipo BBB e alguns filmes que tenho o azar de ver (na esperança de que um bom elenco seja garantia de um bom conteúdo) me fazem pensar nos valores dessa sociedade da qual fazemos parte.

E, então, algumas vezes acho que estou ficando velha (sei bem, que envelhecendo todo mundo está, a cada dia, hora, minuto), mas me refiro aqui a me espantar com cenas que só me fazem crer que está tudo muito diferente no mundo em que vivemos. E, aos 35 anos de idade (recém completados), sinto que faço parte de um outro tempo. Tempo em que a televisão tinha um conteúdo menos apelativo, tempo em que não era “perigoso” deixar uma criança ficar com o controle da televisão, pois nos horários em que ela estava assistindo TV não haveria nenhum programa impróprio para sua idade. Tempo em que o sexo não era tão banalizado, tempo em que os valores eram outros. O que venho acompanhando em filmes, alguns muito bons pelo elenco e enredo, é de um tempo em que as relações são frágeis, a fidelidade está na “berlinda”,  apologia ao uso de drogas e medicação como forma de lidar com as intensas demandas do meio, o afeto não é mais o que “move montanhas”,  entre outras coisas que não cabe aqui  mencionar.

Isso me faz pensar se é a televisão que influencia nossa cultura, ou ela é apenas um reflexo do modo como estamos vivendo. Talvez os dois. Já que o discurso estampado na televisão é muito similar ao que circula no nosso meio. Homens e mulheres que anunciam para os mais próximos suas “façanhas” e “contravenções” sem o menor pudor (pelo contrario, com orgulho), relacionamentos que duram poucos meses, falta de confiança nos relacionamentos, falta de ética nas relações, valorização exacerbada do dinheiro como forma de ser feliz, falta de comprometimento no  trabalho, falta de honra pela palavra (que em outros tempos tinha um valor de compromisso firmado), enfim... acho que há uma falta enorme de valores, ou melhor... dos valores que para mim são importantes.

Que valores são esses? Comprometer-se com o que se diz, ser honesto nas relações (de trabalho, de amizade, de casal, de família), assumir os erros sem vergonha, ser fiel àquilo que se comprometeu (e isso não significa não poder mudar de opinião, mas assumir seus desejos e suas consequências), não banalizar seu corpo e suas relações, cuidar daqueles que amo, não tirar vantagem das situações, não me apossar daquilo que não é meu, etc. Ou seja: comprometimento, honra, fidelidade, integridade, honestidade, respeito e amor. Bom, talvez alguns digam que amor não é um valor. Talvez não seja, mas preservar a capacidade de amar aquilo que possuo e as pessoas que me são caras é uma habilidade em baixa nesses tempos em que a aparência tem mais peso do que a essência, que ostentar aquilo que tenho me dá mais valor do que  mostrar quem sou.

E, com isso, vemos as pessoas precisando mostrar seus dias felizes, seu poder aquisitivo, sua capacidade de tirar vantagem dos outros, como se isso de fato as fizesse mais felizes, mais “bem sucedidas”,  melhores por “passar a perna”  nos seus clientes, nos seus companheiros afetivos, nos seus pais, nos seus filhos, nos colegas de trabalho, etc. Acho triste essa falta de amor por si mesmo. Pois, se precisamos trapacear, em verdade estamos mostrando que não somos capazes de conquistar as coisas ou as pessoas, ou um negócio “seguindo as regras do jogo” , que não nos sentimos bons o suficiente para ganhar ou perder honestamente e por nossos próprios méritos e qualidades.

Triste esse tempo em que as pessoas se consideram tão pequenas a ponto de necessitarem enganar para ter a sensação de vencer. Ganham o jogo, mas vendem a alma. A minha não tem preço e gosto de lembrar dos valores que aprendi, saber que tento e consigo segui-los me traz uma doce sensação  e é garantia de um sono reparador.

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