Ana Carolina Seara
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Muitas vezes a vida nos
revela coisas pelos mais inusitados caminhos. Tem sido assim. E, se nos
permitirmos aprender as lições, teremos aproveitado as oportunidades e
possibilidades de encontrar um novo modo de encarar os problemas e dissolver os
desafios.
Engraçado como podemos
bater a cabeça tentando aprender algo e quando simplesmente “largamos de mão” a
resposta surge, como se estivesse lá há tempos, apenas esperando o nosso tempo
para poder percebê-la e senti-la.
Quando temos clareza do
que queremos e dos nossos objetivos, podemos incorrer em um risco, o risco de
tentarmos controlar os acontecimentos para que as coisas e os rumos da vida
sigam nosso “planejamento”. Afinal esse planejamento é feito com base em uma
ínfima parte dos fatos, a parte que contém nossa percepção dos fatos e da vida,
mas nossa percepção não pode abrigar o todo maior, aquilo que não enxergamos e
o que não podemos controlar: os outros e as circunstâncias. Nem mesmo aquilo
que acreditamos ser o melhor para nós, de fato é: pois isso é apenas uma
fantasia (ou imaginação), baseada em aprendizagens anteriores e projetada no
futuro, somada ao que temos como desejo. Devemos nos orientar pela nossa
percepção, mas nunca achar que esse é o único modo de chegar ao nosso destino.
Abrir mão do controle é
um desafio em um tempo em que somos exigidos a sermos cada vez melhores, cada
vez mais rentáveis e produtivos, cada vez mais “felizes” (como se a felicidade
fosse um estado permanente, que devemos alcançar e nela permanecer) e cada vez
mais consumidores de vida (entendida aqui como modos de ser compartilhados pela
cultura e sociedade em que vivemos, incentivados pela mídia e propagados pelos
nossos pares, muitas vezes desligados dos nossos reais desejos e necessidades).
Mas abrir mão do controle
não é abrir mão do desejo ou não possuir um horizonte de futuro. É simplesmente
fluir com a vida, é se orientar pela experiência, é desapegar das consequências,
é permitir que a vida (com suas curvas e desvios) nos revele o caminho.
Abrir mão do controle é
saber o destino, mas permitir que os acontecimentos nos revelem as estradas que
devemos pegar. É deixar a vida nos levar, sem que isso signifique
descompromisso ou falta de responsabilidade com ela. É poder ESTAR mais
presente e despreocupado com a permanência: pois cada momento só pode ser
vivido no instante em que ele acontece e nisso reside sua beleza ou dureza. É
impossível segurar as horas, apagar os acontecimentos ou replicar os momentos.
O que resta dos momentos vividos são as sensações, impossível prolongá-las ou
diluí-las. Mas isso que fica é o que de mais importante podemos ter, pois essas
sensações são nosso norte nos dias escuros, a bússola interna que melhor nos
orienta. O mais confiável método de orientação e localização.
Reconheço que nem todos
conseguem seguir assim... Confiando na sua orientação interna. Mas, depois de termos pegado muitas
ruas sem saída, muitos desvios esburacados, muitas turbulências na estrada da
vida, podemos chegar nessa simples constatação: se estivermos conectados com
nós mesmos e nos permitirmos fluir com a vida, a estrada vai se abrindo à nossa
frente.
Agora que temos a bússola,
sabemos o destino e olhamos o mapa, podemos abandonar o roteiro. Quem sabe nos
cruzemos nessas estradas novamente, ou não. Não importa, pois meu desejo é que possamos fazer uma bela
viagem e que a caminhada possa ser muito bem aproveitada.
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